sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A carta


Para T.V.S

"Às vezes, a saudade não cabe no peito. Todos os dias durmo e acordo com ela, mas hoje é um desses dias em que ela resolveu me acordar mais cedo e gritar a tua ausência.
Parece que foi ontem que estive nos teus braços, sentindo teu cheiro, com teus beijos me aquecendo por dentro, nossos olhares parando o tempo.
Cada dia a mais de espera é uma dia a menos até o reencontro, mas ainda assim a saudade não cessa, não silencia nem vai embora.

Por quê tão longe? Penso todos os dias. Mas antes de começar a reclamar, penso nos casais que podem se ver todos os dias, que estão sempre juntos e por incrível que pareça não se conhecem nem um pouco, não se respeitam, não são parceiros e nem sabem aproveitar cada segundo. Segundos, que para nós, fazem toda diferença. Um segundo a mais ao teu lado e eu tenho força pra te esperar por uma semana inteira até a próxima viagem, o próximo encontro.

Cada telefonema, cada mensagem, cada bom dia, boa tarde e boa noite me dá forças pra aguentar mais um pouquinho.
E sigo esperando...
Espero, por que você, daí de longe, me faz sentir melhor do que muitos
que têm o dia inteiro para me fazer bem e não o fazem.
Espero por que com você eu não preciso fingir um sorriso ou segurar uma lágrima. Com você eu sou eu. Nua, crua, tua.
Com você eu aprendi que distância NUNCA poderá medir um amor, o carinho, o respeito, a amizade e nem a sintonia que temos. Aprendi que mesmo longe, você faz parte dos meus dias mais bonitos, você me esquenta nas noites frias e me dá o brilho nos olhos que tantos invejam.
Depois de você eu aprendi o valor de cada minuto e que devemos aproveitá-los da melhor forma possível. Então eu espero.

Espero o próximo telefonema, a próxima mensagem, a próxima chegada trazendo esses olhos que me devoram, esses braços que me protegem e esse coração que é a minha casa."



Oi, eu queria te dizer de como os dias têm sido esse peso, como se houvesse um mundo amarrado em cada um dos meus pés. Um mundo composto de saudade, medos, perdas e sombras. Um mundo de coisas que pairam sob a camada etérea dos olhos. Nada é um balão. Alguém já disse isso? Disse sim. Foi o Lulu que compôs um verso parecido pra dizer que a vida quase sempre pesa. Ser leve, estar leve é um presente e eu há muito tempo não sei compor tais delicadezas. Eu sei que você me entende, mesmo estando longe, porque a nossa pele já doeu tanto em tantas tardes de sacada e brincadeiras e traições e doer junto é um elo que nunca morre. Ali vida passava e era tudo claro e ameno, lembra? Eu não me esqueci.
Eu já te contei que estou tomando fluoxetina? O mal do século me pegou. O mal do século é esse peso das horas aniquilando esperanças. Eu ando tão regredida. Eu ando tão esquecida. Eu ando tão desinspirada. [...] Há um peso ao redor. Eu sinto. O ar é denso e eu o engulo, seco, difícil. Hoje eu sinto espasmos incômodos nos dedos das mãos e tenho prazo de validade. Hoje eu só queria não acabar. Onde é que em mim se fabricam os suspiros? E os voos? Eu me esqueci. Quanto custa uma passagem para... perto? (de ti, de mim, de algum sorriso) Ou para bem longe? ... Pode ser de balão. Mas... olha só, eu me esqueci:

Nada é um balão.